Luís F. G. Andrade
Palavras pronunciadas por Luís Andrade por ocasião do lançamento da Revista Veredas, em João Pessoa - PB, na noite do dia vinte e dois de abril de 1994.
Assistimos aqui o que eu chamaria, talvez um pouco pomposamente, uma manifestação apofântica. É que neste momento e nestas circunstâncias, algo se manifesta, vem à luz, e nos interpela. Não é apenas o nascimento de mais uma Revista. É sobretudo um ato simbólico, pelo qual ela se faz pública, solicitando reconhecimento e se propondo à circulação como um símbolo — tessera! — de identificação individual e social.
Enquanto lugar de registro da escuta e de leituras diversas, "VEREDAS" nos convoca a todos a prestar-lhe atenção, como um significante novo que surge quando menos se espera, quase num efeito de surpresa, mas sobretudo num impacto de fulgor, próprio às coisas marcadas pela diferença.
Falei que esta Revista é um significante. Se tentar me explicar muito, talvez redunde em mal-entendidos, pois isto, como sabemos, é muito próprio do falar. Poderia dizer, simplesmente, que cada um tome esta escritura feita letra e se ponha a ler! Pois é na leitura que se encontra o significado. Com efeito, o significado é a leitura que se escuta do significante.
Mas, como me pediram para eu falar e eu me comprometi a fazê-lo, fá-lo-ei apenas como se pontuasse, para que este novo significante apareça como leitura e não se venha a perder de vista no desfiladeiro de tantos significantes ...
Pois bem, este significante significa o quê? Será por acaso mais um entre tantos? Penso que não. Em primeiro lugar, ele resulta de um ato de criação, e não é à toa que se nomeia por um efeito de metáfora, cujo significante oculto nos remete a uma economia de significações que bem lembram o que vem a ser uma análise: Veredas - Grande Sertão Veredas! — , um longo diálogo, uma longa fala, uma paciente escuta, o drama individual das vicissitudes do desejo, com seus momentos de crise, de angústias, de delírio, de paixão, promessas, decepções, descobertas e sossego ...
Em segundo lugar, este significante representa para nós um outro significante, cuja nomeação responde por 'TRAÇO FREUDIANO - VEREDAS LACANIANAS". Quem sabe esta Revista, enquanto significante, representante desse significante seja um traço, que feito letra, testemunha da reconstituição engendrada após uma crise de significado, tão comum na história do movimento psicanalítico.
É interessante notar que seu nome — VEREDAS— é também o nome de quem lhe deu origem, inscrevendo-se assim numa ordem de filiação que lhe concede não apenas um lugar, mas, igualmente, o direito de reconhecimento. O que poderia, então, parecer uma simples letra, resultado de uma escrita, sobressai como uma marca distintiva, nomeada pelo seu nome, podendo, por conseguinte ser lida naquilo que ela tem de mais próprio e singular: sua identidade.
O seu traço distintivo — quem sabe, seu "einziger Zug" — exibe as marcas e insígnias dos significantes mestres de Freud e de Lacan, que constituem certamente o seu ideal.
VEREDAS é pois o significante feito letra, que hoje se nos manifesta, e quer ser reconhecido na sua vertente de sinal e de insígnia.
Oxalá dure tanto quanto um nome próprio, para que possamos descobrir novas significâncias ali onde os que nela escrevem se maravilharam na descoberta da produção de sentido originada na sua escuta e na sua leitura.
E então o que poderia, num primeiro momento, aparecer-nos como uma simples vereda, revelar-se-á como o grande sertão, que está é dentro da gente e que é grande e oculto demais!
EQUIPE EDITORIAL
Edna Maria Porto Mendes
Everaldo Soares Júnior
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Taciana de Melo Mafra